O Coletivo

Blog do escritor Juliano Rodrigues. Aberto a textos gostosos de quem quer que seja. Contato: julianorodrigues.escritor@gmail.com

terça-feira, 31 de março de 2015

AMOR NUDE

Me apareça sem máscaras.
Te quero in natura
Sob luz direta,
Sem música de fundo.

Fale sem meias palavras,
Fora das convenções,
Sem métodos e construções,
Cuspa o que vier à mente.

Quero te ver com roupa de dormir
Unha por fazer,
Cabelos em desalinho,
Sem se depilar.

Esqueça a maquiagem
E os cheiros comprados.
Mova-se como se não houvesse alguém olhando,
Assuma seu mundo.

Quero te espiar nua e crua,
Não querendo provar nada,
Sem olhares e bocas
Nem gozo fingido.

Desejo sua intimidade mais plena
Toda humanidade sem disfarce
Seus opostos todos à tona.
Toda inteira!

Nada de medos, discursos...
Passado ou futuro.
Só o presente do seu presente.
Toda entregue ao momento.

Nenhuma foto,
Nenhuma carta,
Nenhum registro.
Momentos fugazes


A serem consumidos nos agoras.

                                                      Juliano Barreto Rodrigues.

Arte Grafada: uma concepção artística da escrita

Juliano Barreto Rodrigues

Costumo comparar a escrita ao desenho para mostrar o que se pode fazer para enfatizar e tornar mais interessante o que se expõe. Iniciemos pelo mais básico: em regra, se começa um desenho da esquerda para a direita, de cima para baixo, como também fazem os escritores ocidentais; os instrumentos utilizados são mais ou menos semelhantes – um suporte adequado e meios de gravação, que no desenho e pintura são, em tese, mais diversificados e versáteis; ambas as formas de arte, a escrita e o desenho (aí incluída a pintura) visam informar algo ao observador-receptor. Tal informação terá sempre, no caso do fazer artístico, um conteúdo estético e sensível-emocional.
Empregando meios próprios é possível, nos dois casos, retratar cenários os mais diversos e também criar imagens ficcionais irreais. Além disso, há formas de dar movimento, passar mensagens subliminares, induzir interpretações, sugerir continuidade ou regressão, gerar estados de espírito.
No desenho é possível traçar uma linha de contorno para limitar o que se desenha e dar-lhe maior nitidez, permitindo que o objeto principal seja visto com clareza a uma distância maior ou que fique destacado em meio a outros elementos. Linhas de valor mais alto – mais grossas – projetam para próximo do receptor o que contornam; num conjunto de objetos desenhados com linhas de valores diferentes, quanto mais finas, mais distantes parecerão os objetos. A linha é um artifício, não existe nos objetos reais que se retrata.
Desenhando e pintando também se podem alterar cores, brilhos e sombras, tamanhos e perspectiva, etc., para destacar determinado(s) ponto(s) da cena e suavizar ou dar profundidade a outro(s), compondo imagens até surreais, que uma fotografia jamais poderia mostrar.
Na escrita, o mesmo acontece. Como ela possibilita, comparando-a com a fala, pensar com mais vagar no que se quer dizer, as palavras devem ser escolhidas a dedo, dando o contorno enfático para tornar nítida a mensagem, ou então os termos podem ser colocados de forma a ressaltar ou diluir algumas cenas: tudo para causar a sensação que se procura. A pontuação e o tamanho dos períodos vão ditando o ritmo do texto; o que se diria em alto tom ou se sussurraria deverá ser escrito de forma a dar artificialmente o plus de volume ou minimizar os efeitos da audição imaginária do leitor, como se houvesse uma ordem velada mandando subir ou baixar o som quando se lê. A técnica precisa é usada para se conseguir, dentre outras coisas, que o leitor leia dessa ou de outra forma, causando uma cumplicidade que o faça esquecer que lê, fazendo-o “ver” a cena e “ouvir” o que é dito.
No desenho normalmente há uma base, um substrato, um fundo para contextualizar e sustentar o que se desenha, além de dar parâmetro para que as coisas apareçam em planos diferentes. O mesmo deve ocorrer na escrita. Por trás da trama e de detalhes trazidos à tona, a mensagem mais profunda se desenvolve formando uma imagem macro: aquilo que se pode contar em pouquíssimas palavras quando se sintetiza para um amigo do que se trata o texto. Esse o fundo, sobre o qual o autor vai sobrepondo minúcias, sabores, encantos, para dar gosto ao que é lido, tentando tornar aquilo marcante e talvez inesquecível.
Ouso dizer que todas as formas de arte são coirmãs, na verdade nuances de uma Coisa só, mas acredito que a escrita tenha relação mais facilmente identificável com a contação de histórias, a declamação, o desenho e a música.
Retratar é o mesmo que descrever. A subjetividade e visão do artista já se manifestam no recorte da realidade ou do sonho que decidiu enquadrar. A forma que a imagem toma, concretamente, na tela ou em palavras, evidencia o domínio das ferramentas, as preferências por ângulos mais ou menos propícios, de maior ou menor iluminação, mais brilho ou mais opacidade, tonalidades vivas ou cinzentas, etc.
Tanto desenhando quanto escrevendo é possível traçar de delicadezas ínfimas e filigranas a grotescas e superlativas cenas nauseantes, mas em nenhum dos casos se descura do acabamento. Esse cuidado é importante porque se busca o ponto certo de adesão do observador para que se torne participante da obra. A potência do efeito comocional que o artista consegue imprimir é que o marcam como grande.
 Impacto tem menos a ver com a extensão da obra do que com o tema e a forma com que é apresentada. Em ambos os casos, a economia do que vai em segundo plano projeta à frente o que está no primeiro plano; destacar o secundário esconde, suaviza ou adia o principal. São estratégias de penetração nos sentidos do receptor.
O produto artístico tem que conduzir o degustador a crescentes ou decrescentes de paladar intelectual e sensorial, a um relevo de picos e\ou planícies e\ou planaltos e\ou vales, tem que levar a algum lugar. Toda boa arte provoca, pasma, faz pensar. A estupefação é a prova de que a obra tomou quem a admira.
A criação do artista maduro o revela. Seja na assinatura pictórica do pintor, ou no estilo do escritor ou do compositor, é possível identificar o criador por trás da criatura. E isso se dá apesar de cada obra ser diferente uma da outra – é que o “como se faz”, ... o processo, deixa as digitais daquele que concebe naquilo que nasceu. Por isso é aceitável que alguns especialistas atestem a autenticidade e autoria de obras sobre as quais há alguma dúvida nesse sentido.
Quem admira um quadro ou, num exemplo mais claro, quem assiste a uma peça teatral, sabe que aquilo é uma representação. Aquele que lê uma ficção também. O leitor ou espectador tem, de certo modo, que “aceitar” participar da ilusão, tem que ser levado a ceder a ela. Se o tema é interessante e a forma de apresentá-lo é envolvente, o sucesso da fórmula será garantido para a maioria.
Aqui é que se parte em defesa da técnica apurada como meio essencial para tornar equivalentes a inspiração artística e o resultado materializado na obra, tornando “real”, nos mínimos detalhes, o que o autor imaginou.
A partir daí, alcançada essa correspondência exata entre o que se abstraía e o que se concretizou na obra, cada receptor a lerá de uma forma, de acordo com os seus filtros cognitivos, morais, culturais, etc. É o mal e o bem da arte: cada um a vê sob seu próprio prisma, espelhando sua formação. Ao artista cabe se conformar por não ser mais dono do que produziu. Dada a luz, levada a público, sua cria é do mundo e cada um a vê do seu jeito.
Alguns artistas trabalham inclusive com o “não dar tudo”, ou o “dar o mínimo”, ampliando a margem de interpretação e subjetividade do receptor, pondo em suas mãos a responsabilidade por completar mais ativamente o que vê ou até de concluir a obra como bem entender. Cortam descrições, ou finais, ou passagens..., e o leitor que se vire para chegar a um resultado.
As possibilidades têm se ampliado. Há instalações em exposições que mesclam palavras, sons, luzes, pinturas, objetos e todo tipo de elementos capazes de estimular os sentidos. O cinema ensina a recortar uma história decorrida num lapso temporal de vários anos em quadros estrategicamente escolhidos para que caiba em duas horas de filme. E faz mais: as trilhas sonoras conseguem o efeito de supervalorizar um momento ou induzir um tipo de sentimento em relação a um personagem, um lugar, uma situação. A sétima arte é uma escola de ilusionismo.
O que isso tem a ver com a escrita? Tudo! Desde sempre houveram livros ilustrados. Agora há áudio-livros, leitura-dramática, livros digitais com imagens animadas e/ou fundo musical em algumas cenas, livros em que o leitor participa escolhendo soluções, e têm surgido inovações cada vez mais interessantes para fazer o que todas as formas de arte têm feito: ampliado os recursos de sensibilização do receptor.
Voltamos o um ponto do qual já tratei. A arte, seja ela escrita, musical, visual, tátil, ou qualquer outra, é uma Coisa só. Há um liame invisível, ou antes, algumas características intrínsecas que permitem visualizar em cada modalidade artística um código genético maravilhoso que torna possível ver em seu DNA a parte de todas as outras. Isso expõe seu parentesco em primeiro grau. Arte é arte. Cada uma das especialidades acrescenta ao artista algo no aprendizado das outras.

sexta-feira, 27 de março de 2015

OSTENTANTDO O OURO DE TOLO

Juliano Barreto Rodrigues

Estava na fila do supermercado e, tentando driblar a impaciência, procurei algo com o que me distrair. “Plim”, o anel do rapaz que estava na minha frente me chamou a atenção. Anel de ouro fraco, com aquela pedra falsa que imita Rubi, sinal dos formados em Direito. Descombinava muito do tipo que o portava: m rapaz de uns vinte e poucos anos, cabelos descoloridos e arrepiados com fixador, camiseta sem mangas, bermuda surfista e chinelos de dedo. Uma figura pitoresca! Pensei comigo (preconceituosamente talvez) que até “coisa de velho” havia se tornado objeto de ostentação.
Antes de surgirem as primeiras faculdades de Ciências Sociais e Jurídicas em Recife e em São Paulo os pais mandavam seus rebentos para Coimbra na intenção de fazê-los homens de leis. Lá o bacharel, quando estendia os estudos e se tornava Doutor, passava a ter direito à pedra rubra no anel. Os maganos brasileiros quando voltavam ao Brasil, sem sequer se doutorarem, ostentavam seus rubis e exigiam o tratamento correspondente. Vem de longe a mania de querer parecer o que não é.
Os esnobes e Dandi’s de outrora tinham, pelo menos, recheio. Um Baudelaire, um Oscar Wilde, eram exibidos mas tinham conteúdo. Isso os diferenciava. Hoje se encapa o vazio com uma veste duvidosa, que tenha uma marca reluzente, e pronto, o indivíduo sai à rua se achando um superstar. Pior é que a ilusão de se distinguir vai engrossando o rol dos igualmente diferentes.
Me deu saudade daquele tempo em que alguns ostentavam livros. Havia mais charme na promessa que traziam. Hoje é Daslu, Nike, La Bela Máfia, colar de ouro maciço, fotografia com dinheiro na balada, braços e pernas “bombados”, com tatuagens no estilo da moda, o pacote todo. A marionete que tem o combo se acha.
O abstrato, o simbólico, substituiu o ser. As pessoas não se falam para deixar uma impressão, se mostram. Na era da velocidade, do carpe diem, e do superficial, difícil é manter a primeira imagem por um tempo. Desmascarado, o indivíduo tem que fazer sua performance para outras bandas.
Goffman, em seu livro A Representação do Eu na Vida Cotidiana, demonstrou como os atores da vida social são levados a representar os papéis que deles se espera e que há uma certa polícia dos costumes que rechaça aqueles que trazem discursos discrepantes. Aí perpetua-se a contradição: ninguém quer ser igual a ninguém, mas as diferenças são condenadas. Então surgem os igualmente diferentes.
Nesse jogo não há ética, vale a roupa falsificada, os óculos emprestados, tirar foto no carro do vizinho. O ter sobrepujou o ser. Me consolo imaginando que por trás daquele anel de grau talvez exista um grau de verdade.


[1] Crônica que alcançou nota máxima na prova de redação do vestibular em Jornalismo, da UFG, na modalidade “portador de diploma”, no processo seletivo 2015-1.

Novas Fronteiras, novos conflitos

― Onde diabos eu vim parar? ― Pensou Collete aflita. Sentada naquela masmorra, respirava o ar úmido do local, com cheiro de comida velha, quase em decomposição, e com clima abafado e frio, ela pensava nos eventos que a levaram aquela estranha situação.
Jovem, bonita e com um álibi perfeito Collete uma aeromoça da Panamerican Airlines havia entrado para CIA há pouco tempo. Suas missões eram geralmente simples, em suma eram apenas entregas; ela pegava pacotes e levava com ela para os países que visitava entregando sempre para outros agentes da agência. Podendo viajar e entrar em diversos países sem levantar suspeita e sem grandes revistas pela alfândega, ela havia se tornado um precioso membro da Central de inteligência.
O ano era 1963, o mundo vivia o final da guerra fria, e a visionária empresa de aviação foi pioneira em realizar voos para a recém aberta União Soviética. Levaria um pequeno grupo que incluía a tripulação da companhia com quatro aeromoças, dois pilotos e um navegador, junto com alguns jornalistas e poucos políticos, que seguiam em uma missão diplomática.
― Todos nossos passos serão cuidadosamente vigiados, cuidado com o que vocês falam, fazem, até o que pensam. Moscou está em transição e qualquer ato mesmo bobo para nós pode ser considerado espionagem para eles. ―explicava o Capitão John― Fora isso, esse é um voo único e acreditem, estamos escrevendo a história. Finalizou sentindo a animação de toda a tribulação que ouvia seu discurso.
Após 10 horas de voo a tripulação chegou ao seu destino, Moscou, onde em poucos instantes eles descobririam ser praticamente uma piada. Recebidos pela Relações Públicas do governo, Collete e todos os outros integrantes da missão ouviram as “regras” da viagem em um hotel visualmente luxuoso, porém podia se notar que as paredes, o chão e todo o resto não viam reparos e cuidados há longos anos. A tripulação não poderia deixar o hotel, só eram autorizados a visitar alguns pontos programados da cidade, o tour seria realizado em pequenos grupos e sempre com a presença da RP, nada de telefonemas, ou qualquer tipo de contato fora do hotel.
Collete em seu quarto, observava as disparidades que retratavam não só o hotel mas todo o país. O charme do velho mundo com encanamento de terceiro, no banheiro não tinha água quente, as tubulações e as instalações elétricas funcionavam apenas em partes e não havia nenhuma tecnologia ali, um telefone ou uma TV. Começava a se preocupar como conseguiria cumprir sua tarefa
Lembrava de cada detalhe dito pelo seu contato em Nova York, “Em um prédio ao lado do seu hotel vive uma antiga espiã chamada Olga, precisamos fazê-la voltar a trabalhar para nós”. A comissária havia passado todas as 10 horas da viagem pensando em como iria completar aquela missão, nunca fizera nada do tipo, servira apenas de mensageira, nunca algo tão importante assim. Agora depois de ouvir todas as malucas regras desse país se sentia ainda mais insegura e tensa. Adormecera.
Respirando ofegante em um saco de pano sentindo os pulsos cortarem onde suas mãos foram amarradas ela tenta gritar e não consegue, desesperada Collete ouve ao longe uma voz conhecida, era Bianca, sua colega de quarto e amiga de muitos anos, com um sorriso de alívio ela abre os olhos , acordara de um pesadelo.
Um passeio aconteceria esta manhã, uma visita aos prédios do governo onde moravam as famílias importantes de Moscou, em um deles morava Olga. Sua amiga Bianca já estava pronta e com sua câmera no pescoço, empolgada para ver cada centímetro do berço do comunismo.
― Juntem aqui meninas quero uma foto de vocês ― gritava Bianca para suas amigas ― Elas estavam em uma pequena praça circundada de prédios altos e feitos de tijolinho com inúmeras janelas, no meio da praça havia uma estátua em mármore cinza, o monumento retratava um homem segurando um mastro e olhando para o horizonte. Enquanto Bianca batia fotos das garotas, ao longe surgiu um barulho das sirenes e um pequeno tumulto de pessoas chegando na praça.
Collete vira ao longe os homens apontando para Bianca e sua câmera, e rapidamente a tomou de sua mão, a agente da CIA sabia que sua colega era muito nova e inexperiente, e iria se desesperar caso algo acontecesse, ou pior, não saber como se comportar e acabar morrendo. Entendendo um pouco de russo da conversa dos homens de terno com a RP, Collete sabia que os homens eram policiais e decidiram que as fotos sendo tiradas de prédios do governo eram atos de espionagem. Rapidamente ela pegou em sua bolsa um pequeno papel e anotou um número e uma mensagem e colocou discretamente na mão de Bianca. Nessa hora os guardas arrancaram a câmera da mão de Collete e a jogaram no porta-malas do carro.

Desesperadas as aeromoças e o restante da tripulação exigiam notícias da comissária de bordo Collete, mas ninguém dizia nada. Bianca com o papel na mão discava o número no telefone do saguão do hotel escondida. Em uma conversa rápida ela avisou a pessoa do outro lado da linha que iria visita-la. Passando pela segurança e conseguindo se esgueirar pela rua, ela entra em um dos prédios da redondeza. Com o coração acelerado ela espera a porta abrir. Olga atende.

― Não sei quem você é mas precisa me ajudar, minha amiga disse que você conhece pessoas importantes que podem tirá-la de onde ela está. ― Explicava Bianca ofegante.
― Não sei do que você está falando, posso ir presa só por abrir essa porta para você ― Finalizou Olga fechando a porta. Mas Bianca colocou seu pé, bloqueando no portal e disse com visível desespero e dor se misturando em sua voz embargada pelo choro:
― É minha única chance, nossa tripulação foi obrigada a retornar sem a Collete, não podemos deixar ela aqui, eu sei, e você sabe, que pode nos ajudar.
No hotel, a Relações Públicas fazia uma chamada para levar todos ao aeroporto e se certificar que ninguém havia saído do hotel, começou em ordem alfabética, sorte que o sobrenome de Bianca era Winston um dos últimos, mesmo assim, quando ela entrou correndo no saguão e encaminhou-se para o salão de convivência a RP já tinha chamado seu nome duas vezes. Cansada, aflita e preocupada, ela seguiu com todos para o aeroporto, fazendo inúmeras preces para que Olga cumprisse sua promessa de soltar sua amiga.
Na cela úmida daquela masmorra Collete tentava saber onde estava, no caminho cobriram seu rosto e apenas a jogaram aqui. Em meio aos seus pensamentos, que passeavam entre sua missão inacabada e a indecisão sobre se Bianca conseguira de fato fazer algum contato com Olga, a aeromoça ouviu passos se aproximando, dois homens abriram a porta com brutalidade, um deles com um saco de tecido preto na mão, colocou na cabeça da moça. Sendo arrastada ela foi jogada de novo na traseira de um carro. ― Devem estar me levando para um interrogatório, esses lugares geralmente ficam na saída da cidade. Mas o que eu vou dizer, não fiz nada, nem estava querendo completar minha missão. Pensava a jovem aeromoça.
Uma freada brusca fez com que o coração de Collete saltasse. Os passos contornando o carro a fizeram pensar que estes eram seus últimos segundos, sentiu o cheiro do carro, uma mistura de óleo e vodca, sentiu os pulsos doloridos onde fora amarrada, sentiu seu coração acelerado, sentiu medo, sentiu vontade de estar em sua casa. Um clarão a cegou por alguns segundos, o barulho que ouvia ela não podia acreditar.

Natany Pacheco.                                                                      25 de fevereiro de 2015.


Diálogos





- Mas o que você tá querendo, mulher?

- Ah, sei lá, o Carlos me ofereceu o carro novo, um apartamento e uma pensão mensal, mas quer ficar com a casa.

-Tá! Então, o que você quer?

- Quero a casa. Nem gosto muito dela, mas não vou deixar ele morar lá com aquela vagabunda. De jeito nenhum! Esse gostinho não vou dar pra eles.

- Mas se não é o melhor pra você e seus filhos, por que não abre mão disso?

- Filhos? Que filhos o quê. Vou mandar tudo pra casa do pai. Acha que vou ficar presa em casa? Ele que se vire pra cuidar, vamos ver se aquelazinha vai aguentar. Não foi ele que quis sair? Então leve a mala.

- Pô, como você é cabeça dura. Seria bem mais fácil fazer tudo de forma amigável. Até porque, há muito tempo, você não quer saber mais dele... Não dificulte, né querida!

- Já decidi. Só assino a porcaria do divórcio se ele me der a casa. E quero uma pensão bem gorda, não vou mudar meu estilo de vida. Puta merda, nunca esperava isso dele: tão pamonha, pegou a vizinha bem debaixo do meu nariz. Eu, inocente, achando que ele só queria saber de trabalho.

- Certo. E nós, como ficamos?

- Para, né?! Tô falando de coisa séria e você apertando meu peito. Tá pensando o quê? Vamos continuar do mesmo jeito de sempre. Até porque, você é sócio dele e não quero ver minha mina secar. Se quiser é assim. Continue bem casado e faça ele me dar logo a casa.


Juliano Barreto Rodrigues
10/02/2014