O Coletivo

Blog do escritor Juliano Rodrigues. Aberto a textos gostosos de quem quer que seja. Contato: julianorodrigues.escritor@gmail.com

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Sugestão de livros sobre escrita



O escritor e jornalista Ben Oliveira lista, em seu site Blog do Ben Oliveira (<www.benoliveira.com>), inúmeros livros sobre criação literária. Transcrevo sua lista e sugiro uma olhada em sua página:



Livros sobre Escrita Literária – A Arte de Escrever Ficção



Para quem, como eu, gosta de ler livros sobre escrita literária e aprender mais sobre o universo dos escritores, da construção de narrativas de ficção, contos, romances, novelas, abaixo segue uma lista de livros em Português e em Inglês.

O poder do clímax – Luiz Carlos Maciel 

A Arte do Romance – Milan Kundera


Criatividade e processos de criação – Fayga Ostrower


Dramaturgia: construção do personagem – Renata Pallotini


Como funciona a ficção – J. Wood


A arte da ficção – J. Gardner

O livro por vir – Maurice Blanchot

O rumor da língua – Roland Barthes

Como Narrar uma História – Sílvia Adela Kohan

Como Escrever Diálogos – Sílvia Adela Kohan


Writing for Videogame Genres – Wendy Despain

Plot and Structure – James Scott Bell


Characters, Emotion & Viewpoint – Nancy Kress


Story – Substância, Estrutura, Estilo e os Princípios da Escrita de Roteiro – Robert McKee


Para ler como um escritor – Francine Prose

A oficina do escritor – Nelson de Oliveira

Viver e Escrever (três livros de entrevistas com escritores e dramaturgos)


How to read a book – Adler e von Doren


Becoming a writer – Dorothea Brande


Palavra por palavra – Anne Lamott


Escrevendo com a alma – Natalie Goldberg

A Arte da Ficção - Henry James

A Arte da Ficção - David Lodge

Cartas a um jovem escritor – Mario Vargas Llosa

Filosofia da Composição – Edgar Allan Poe


A personagem de ficção – Antonio Candido


O laboratório do escritor – Ricardo Piglia


A Jornada do Escritor – Christopher Vogler

O Herói – Flávio Kothe

Por Que Escrevo: Mistérios da Criação Literária – Org. José Domingos de Brito

Como Escrevo?: Mistérios da Criação Literária – Org. José Domingos de Brito

Eles falam, eu falo – Gerald Graff e Cathy Birkenstein

O Caminho das Pedras – Ryoki Inoue

Como Se Faz Literatura – Affonso Romano de Sant'Anna

Guia de Primeiros Socorros para o Escritor Iniciante – Cristina Lasaitis

A Arte de Escrever – Arthur Schopenhauer

O Sucesso de Escrever – Albert Paul Dahoui

O Zen e a Arte da Escrita – Ray Bradbury

Linguagem e Persuasão – Adilson Citelli

Coleção Oficina de Bolso – Terrracota Editora 

Ebook de Técnicas para combater o Bloqueio Criativo

O Foco Narrativo – Ligia Chiappini Moraes Leite

Oficina de Escritores – Stephen Koch


Para ler romances como um especialista – Thomas C. Foster


On Writing – Stephen King


Book in a Box: Técnicas Básicas para a Estruturação de Romances Comerciais: Preparação do Escritor e Revisão da Primeira Versão.


Book in a Box: Técnicas Básicas para a Estruturação de Romances Comerciais: Personagem, Ponto de Vista e Filtros de Cena


Book in a Box: Técnicas Básicas para a Estruturação de Romances Comerciais: Cena e Estória


Book in a Box: Psydrops: Composição Psicológica de Personagens


Book in a Box: A Arte de Comunicar


Oficina de Bolso: Romance – Andrea del Fuego


Oficina de Bolso: Crônica – Xico Sá


Oficina de Bolso: Literatura Infantojuvenil – Marcelo Maluf


Oficina de Bolso: Literatura Pós-Humana – Luiz Bras


Para Ser Escritor – Charles Kiefer 



Disponível em: < http://www.benoliveira.com/2013/09/livros-sobre-escrita-literaria.html> Acessado em: 14 mai 2015.



Brandon Sanderson Escrita Criativa - Lição 1 - Introdução



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segunda-feira, 11 de maio de 2015

                                         

                                       
  
                       Sobre escrita
COMO FAZER UM TEXTO SER LIDO
Título, figuras, capa, e outros pontos importantes para que um texto pegue o leitor.

                                                                                                           Juliano Barreto Rodrigues

O
 leitor precisa de elementos no texto que captem seu interesse no momento em que nele bate os olhos – título interessante, imagem chamativa, design atraente, etc. – para que sinta o impulso de lê-lo até o fim.
A escrita é uma atividade poderosa e de grande alcance, embora seja – talvez – uma das mais discretas formas de arte. Justifico: um som, uma música, atingem os sentidos de quem estiver perto mesmo que não queira ouvir; um cheiro impõe-se da mesma maneira; o frio, o calor, um toque, também; uma imagem, de igual forma; a escrita, quando muito, atinge imediatamente o receptor em letreiros, títulos e avisos bem curtos.
Daí decorrem dois pontos importantes: 1) para que alguém se disponha a ler um parágrafo mais longo que seja, deve ter um comportamento ativo voluntário, e não meramente passivo (como nos casos anteriores). Deve querer ler; 2) para o escritor “pescar” o leitor, é de suma importância o título mínimo e impactante, a capa (nos suportes que a comportam), figuras (aí incluídas tabelas, gráficos, imagens), texturas quando for em papel e, se possível, até cheiros e sons. Há livros interativos – principalmente infantis – que exploram bem esses recursos.
À distância, primeiramente chamam atenção título, capa e figura. O fato da escritura não ser facilmente audível, de não ser gritável ou sussurrável por si só, dependendo dos olhos, da sensibilidade e da capacidade do leitor para criar mentalmente esses efeitos, faz com que seja difícil para o escritor “assaltar” a vontade de seu público alvo.
Porém, há que se flexibilizar tais conclusões e levar em conta que a escrita se lança irresistivelmente àqueles acostumados com sua prática. Um exemplo: quando um filme, exibido por TV a cabo, está simultaneamente sendo dublado e legendado, ocorre que, embora sons e imagens em movimento estejam competindo com as letras, o expectador não consegue deixar de ler a legenda. Ele sabe que não precisa dela, está ouvindo o diálogo e vendo as imagens mas, ainda assim, se pega lendo.
O Jornalismo trabalha bem a questão de “fisgar” o leitor. Cuida que o título seja chamativo e curto, às vezes põe sobre ele um “chapéu”, que é uma frase curta relacionada ao assunto, e sob ele um “sutiã”, visando ambientar o leitor.
Dentro do texto utilizam o lead, que é um primeiro parágrafo que resume tudo, respondendo rapidamente as perguntas Quem? O que? Onde? Quando? Como? Por que?. Usam também subtítulos (intertítulos) que separam e orientam os blocos da reportagem; o “Olho”, que é um trecho do texto destacado no meio da página; e vários outros recursos que capturam a vista e o interesse do leitor.
Estimulado o apetite pelo escrito, o principal já está feito. De resto é só não pisar na bola descuidando da graça (no sentido de dádiva) do texto. Um bom final pode ser a coroação que vai tornar o texto marcante e memorável.
Parágrafos curtos ajudam. Fluidez também: evitando muitos pontos, muitas vírgulas, ponto-e-vírgulas, parêntesis, aspas, hifens e outros sinais gráficos que não sejam apenas palavras. Mas aí há a questão do estilo, uns usam mais “quebra-molas” no texto e outros, menos.
Uma mudança de atitude essencial para todo escritor é deixar de escrever para si. É importante escrever pensando no leitor – em atraí-lo, satisfazê-lo – adivinhando o que lhe interessa ou fazendo com que se interesse pelo que vai escrito pela forma com que está feito. O autor tem que lembrar-se de que escreve para ser lido e isso exige, pelo menos, uma pessoa além dele. Ser um bom cicerone, guiando o visitante de seu texto pelas imagens que constrói, é uma obrigação do bom escritor.
Quando possível, ponha na sua escritura os elementos sensíveis que, em tese, lhe são alheios: os aromas, sons, sabores, as texturas, e tudo o mais que contando uma história é possível criar na mente do leitor. Explorar, indiretamente, os outros sentidos além da visão é um mecanismo muito eficiente na criação de cenários e sensações que ficam gravados na mente do leitor.
E não me digam que as regrinhas “encarceram” a criatividade e limitam a forma de se dizer as coisas. As regras são apenas instrumentos para se alcançar determinados efeitos e podem ser simplesmente deixadas de lado quando convier. A forma é a capa do conteúdo. Qual é mais importante? Um não é mais importante que o outro. Apesar do conteúdo ser o que se quer transmitir, sem a forma adequada o leitor não vai entender ou nem sequer se interessar pelo que o autor quer lhe dizer.

Atenção ao conteúdo, mas também à forma. Escrever é um ato artístico estético. Já dizia Oscar Wilde que “é preciso ser muito superficial para não julgar pelas aparências”.

terça-feira, 5 de maio de 2015

MORDE E ASSOPRA


                                                        Juliano Barreto Rodrigues

Impropérios sussurrados para si mesma, Sesmaria vocifera intimamente por dentro: “Por que é que tenho que levar a vida servindo os outros e sendo humilhada? Que fiz eu, que sempre fui honesta, para merecer sina tão desgraçada? Minha mãe me deu esse nome ridículo e meu pai nem sei quem é. Treze irmãos perdidos por aí... e eu morrendo de solidão aqui.”
Para o ônibus, a chuva alagou a cidade inteira. O Rio de Janeiro agora parece um marzão de água doce, bem temperado de lixo arrastado pela correnteza. A amiga bolota impõe-se a Sesmaria: “Sisa, vai, desce logo que o motorista não vai ficar esperando”. Sisa salta no aguaceiro. Corre toda molhada para o primeiro abrigo que acha. São mais ou menos seis horas da tarde e, com o chuvaréu escurecendo o tempo, parece ser bem mais.
O cheiro de chuva, misturado com os cheiros de suor do próprio corpo e da sujeira que escorre na enxurrada, formam um perfume inigualável. Como os raios cortam o céu,  explodindo em trovões, dá um medo danado em Sisa, que grita a cada estouro “Valei-me minha Santa Bárbara” e se benze três vezes. As carnes magras e endurecidas da lida sem descanso estremecem e a conhecida valentia da matuta amolece.
Falta pegar mais um ônibus apinhado e subir o morro a pé. Só duas sacolas plásticas de supermercado protegem Sesmaria: uma vai na cabeça e na outra se esconde – da água – a bolsa. O resto, meu irmão, fica tudo ensopado. E ainda ter que aguentar a gorducha tagarela até quase em casa...
Aquela barulheira do dilúvio e toda a confusão da rua não ocupam toda a cabeça de Sisa. A cada sobressalto, um novo pensamento de lamentação surge e a vontade de ter o colo da mãe dói agudamente. Só e só. É como se sente Sesmaria. E, além disso, muito cansada da vida.
Um caminhão de gás passa, tirando lasca do meio-fio, e dá um banho de água suja nas duas. Sobram palavrões lá do Norte, aprendidos ainda na infância, coisas cabeludas mesmo. Sisa pragueja e diz que está cansada de viver, que não dá conta mais. O segundo ônibus encosta brutamente. Para cada um que desce, parece que entram dois. Agorinha alguém senta no colo do motorista.
A noite torna tudo mais intenso. Subindo a serra, com aquele trânsito absurdo, a sensação é que não demora e o ônibus cai na ribanceira, ou um caminhão bate de frente, ou um relâmpago atinge um poste e mata meio mundo. Sisa está cansada de viver, mas não quer, de jeito nenhum, morrer assim. Reza, faz promessa, blasfema.
O bolo humano desembarca todo no ponto final. A chuva deu uma treguazinha e agora é subir o morro. A gorda ainda quer ir de braço dado... O passo de cavalo cansado dá a marcação da toada. Enfim, a amiga fica em casa. Despede-se com um abraço, um vai com Deus e um até amanhã. Ufa! Sesmaria está sozinha. O alívio vai virando solidão a cada passo. Sisa lembra-se do “até amanhã” e sofre ter que repetir tudo de novo no dia seguinte.
 A encharcada desembrulha a bolsa e tira a chave de dentro. Abre a porta e vem o susto: as goteiras molharam sua cama. Agora é o fim, Sisa vai morrer. Num gesto automático liga a televisão. Plim-plim, segunda parte da novela das nove, prenderam o vilão, ele vai ser desmascarado. Senta Sisa na poltrona que vai ser seu dormitório. Daí a pouco está rindo, soltando acusações contra o preso, defendendo a mocinha.

Banho rápido no intervalo, Miojo na outra propaganda, chinelinho nos pés e uma roupa seca, Sisa goza sua hora e meia de prazer diário e dorme, moída, esquecida de todos os dissabores.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

DEVORO



                                                                Juliano Barreto Rodrigues.

Meio cheio, meio vazio
Na verdade...
Muito cheio de tudo,
Muito vazio por dentro.
Eu que gozei todos os gozos éticos que pude,
(Que nunca economizei nesse sentido)
Ainda acho que poderiam ter sido muitos mais.
Continuo vivendo aquela insatisfação gritante
Da primavera da vida.
Nada de bom me basta,
Quero overdose de prazer,
Repetir indefinidamente os êxtases...
Todos os belos êxtases que tive
E experimentar muitos mais.
Sou saco sem fundo,
Buraco negro.

Devoro!