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quarta-feira, 4 de outubro de 2017

A Vida Privada das Árvores, livro de Alejandro Zambra


Por Juliano Barreto Rodrigues

A Vida Privada das Árvores. Livro de Alejandro Zambra, numa edição muito bonita da Cosac Naify.

A leitura de Alejandro Zambra foi super-recomendada por diversos vlogueiros. Após uma breve pesquisa sobre o autor, me interessei.

Chileno, 42 anos, escritor, professor e crítico literário, premiado em 2007 como um dos 39 mais importantes escritores latino-americanos com menos de 39 anos, eleito pela revista britânica Granta como um dos 22 melhores escritores de língua espanhola com menos de 35 anos, é conhecido por romances curtos, que se lê em uma sentada.

Antes da leitura não quis ver nenhuma resenha ou crítica sobre o livro, para não me contaminar. Assisti uma entrevista que ele concedeu a Rodrigo Simon (Cf. <https://youtu.be/44YwyJNX0V0>), em que fala de outro romance seu, e me incomodou um pouco suas caras e bocas, a pose de grande escritor, os trejeitos de “inteligentão”. Mas esqueçamos o autor, ele não vem ao caso.

Ao que interessa: o livrinho é rápido, com um tema que até poderia ser interessante, se o tratamento dado não fosse tão superficial. É literatura para se ler no aeroporto, enquanto se espera um voo. Um passatempo bem despretensioso e insípido. Ruim? Naõ! Mas também não chega a ser bom.

O professor de literatura e aspirante a escritor Julián espera a chegada de sua mulher Verónica, que parece que nunca chega. Ele conta histórias de árvores para sua enteada Daniela enquanto espera. Vai relembrando seu passado e imagina como seria um futuro sem Verónica.

A auto-referência ao próprio romance, como recurso de metalinguagem, com o narrador “quebrando a quarta parede” e falando abertamente ao leitor, lembra o tempo todo que é só uma história, dificultando uma imersão maior. Por outro lado, essas intervenções são muito interessantes para análise em cursos de escrita criativa ou criação literária. Aliás, por essas e outras – e até por ser curto -, seria perfeito para essa finalidade.

Falemos um pouco sobre o primeiro parágrafo do livro. É assim:

JÚLIAN DISTRAI A MENINA COM A VIDA PRIVADA DAS ÁRVORES, uma série de histórias que inventou para fazê-la dormir. Os protagonistas são um álamo e um baobá que de noite, quando ninguém está vendo, conversam sobre fotossíntese, esquilos, ou sobre as numerosas vantagens de serem árvores e não pessoas ou animais ou, como eles dizem, estúpidos pedaços de cimento.

Justifica o título do livro, mas seria dispensável no lugar que ocupa – principalmente porque o segundo parágrafo apresenta o enredo de forma mais competente. Mas esse primeiro parágrafo é bonito por si só, lírico e ingênuo, remete à ideia da infância e amortiza a entrada abrupta no texto. Parece-me, nesta época de ditadura dos primeiros parágrafos impactantes, uma bem-vinda resistência à estandardização.

O narrador e Julián, o personagem principal, usam aquela forma primária de pensamento crítico da negativa vazia, sem justificação, caracterizada por frases do tipo “blá-blá-blá, blá-blá-blá, ou não...”, como se o “ou não”, disparador de uma incerteza (que não é desenvolvida a seguir), servisse para dar a impressão de profundidade dialética e inteligência do narrador e da personagem.

Na página 20 há uma discussão interessante sobre arte. É feita uma crítica sobre as “modas artísticas” dos professores de arte da universidade e de como os jovens artistas imitam, à perfeição, o “dialeto da academia”. Por fim, e não só por esses motivos, a personagem Verónica, após deixar a faculdade de artes, se vê confortável na condição de amadora.

O livro é curto, mas extensão não é problema, até porque há coisas magníficas – principalmente em poesia e microcontos – que não ocupam meia página. Dá para ser profundo e envolvente em poucas linhas.

Não há uma trama interessante, embora isso pudesse ser indiferente se a forma em si prendesse. Classifico o livro como uma literatura pré-adultescente, se isso existisse. É que nem é infanto-juvenil, nem adulta de verdade: trata bem en passant, ingenuamente, o enredo, sem acrescentamentos ao repertório psicológico de um leitor adulto.

Quando estava na página sessenta fiz meu exercício de previsão do final. Pensei em dois finais: um me faria odiar o livro, o outro seria apenas previsível. Deu este, que também é ótimo exemplo para discussão em workshops literários. Não que o final seja muito importante: há literaturas de meio, em que a forma, a escrita em si, protagoniza, nas quais pouco interessa o final (na verdade, a vontade é que a leitura nem termine).

A Vida Privada das Árvores é recheado de recursos estilísticos que são formulazinhas consagradas de grandes literaturas, mas é raso (podem argumentar que foi intencional... pode ser), sem “liga”, sem impacto. O problema é a linguagem mesmo. Não toca, não prende. A gente só termina o livro porque ele é do tamanho de um capítulo, se não, não dava.

Sou contra críticas, principalmente se não estou mostrando obra minha que suplante a criticada. Mas sou um leitor competente, falo como leitor. É só uma opinião honesta.
Se recomendo o livro? Sim. Como entretenimento light, quase sem glicose nem cloreto de sódio.


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